São Paulo & outras alegrias

Engraçado como os jornais possuem um roteiro fixo. É simples: oscilam entre a exibição das mais variadas tragédias, crimes hediondos regados a sangue e tiroteio, guerras, crises econômicas e bolsa de valores. Nesse interregno a previsão do tempo seguida do noticiário esportivo dão uma acalmada nos ânimos.

A questão, é que eu sempre tive uma imagem negativa de alguns lugares. Jamais iria ao Afeganistão ou  viajaria a lazer aos países pobres da África. Seguindo a mesma lógica, da mesma maneira como desejava com todas as forças conhecer a região sul do Brasil e desprezava totalmente a idéia de conhecer a capital São Paulo.

Eram tantas balas perdidas, marginais engarrafadas por quilômetros mil, favelas, assaltos, ônibus e metrôs lotados todos os dias e como se não bastasse tantas coisas negativas, a ausência de praia. Sempre tive a impressão que praia é o oásis das capitais: aquele ponto de tranquilidade, lazer e repouso recompensador, depois de dias no stress do cotidiano. Só perdoava o fato de Belo Horizonte não ter mar, porque sei lá, quem já ouviu falar mal de BH?

Minha mãe morou na terra da garoa no início dos anos 80. Sempre nutriu profunda admiração pelo lugar e jamais desistiu de tentar quebrar o preconceito. Conversa vai, conversa vem, eis que somente esse ano eu resolvi dar uma chance ao Rio tietê. Admito que resolvi fazer a viagem por motivos meramente consumistas: queria comprar barato. Nisso eu sabia que a terra que possui cerca de 240 mil estabelecimentos comerciais e 50 shoppings centers não decepcionaria.

Eis que ao descer do avião, surpresa: descubro que a temperatura média não passa de 22,5º. Adorei o friozinho. Não peguei nenhum grande engarrafamento, o que foi outra surpresa. Descobri que para evita-los basta substituir o bom e confortável carro pelo metrô ou trem em alguns trechos. É mais ecológico, rápido e econômico. Resultado? Tive um passeio extremamente tranquilo.

As pessoas no metrô eram em sua maior parte bem vestidas (o clima frio ajuda pois não dá tanto espaço aos pecados fashionistas). Não pude deixar de observar a educação daquela gente. Pobre ou rico, preto, branco ou amarelo, as palavras de ordem são: com licença, desculpe e obrigado. O povo é mais descontraído e até as crianças sabem como se portar e agir em chegadas e despedidas: a maioria esquece a birra e distribui sorriso e beijinho (os paulistanos cumprimentam com apenas um beijo na bochecha, tá galera? fiquei 'no ar' ao tentar dar o segundo  várias vezes).

Até os restaurantes funcionam melhor. Fiquei meio espantada no Mercado Municipal quando pedi um pastel (frito) de camarão e um suco de abacaxi com hortelã (direto da fruta) e recebi o lanche em menos de cinco minutos. A eficiência se repetiu em outros lugares. Mais um ponto!

As opções culturais e a arquitetura do século passado que permeia a cidade são uma atração a parte. Amei as igrejas, os prédios antigos e museus. Uma pena que não deu pra visitar o mínimo que eu gostaria. 

Pinacoteca, ao lado da Estação da Luz -  SP

 
Estação da Luz - SP

Pra minha surpresa, também não morri intoxicada com a poluição. Nem sinal da 'feia fumaça que sobe apagando as estrelas' poeticamente relatada por Caetano. Ao contrário: tive contato com vários parques muito arborizados que colorem de verde o cinza predominante nas contruções. Não que a poluição não exista, mas de forma alguma é tão gritante e incômoda que possamos perceber andando normalmente pelas ruas.
Parque Ibirapuera
São Paulo tem uma pitada de sonho. Talvez a magia capaz de atrair tantos e tantas através dos séculos. Aquelas calçadas de concreto guardam as lágrimas de alegria e tristeza dos que passaram com seus sapatos lustrosos, saltos, alpercatas de couro ou em pura carne. A cidade irradia energia e exala por toda a argamassa porosa um tantinho de esperança. Conheci e aprovei. E o melhor: descobri que morango pode sim, ser doce:

Morango gigante e doce comprado no Mercado municipal de SP 

Obrigada, São Paulo!

  • Sem dúvidas a melhor música sobre a terra da garoa:



4 comentários:

  1. Salve, salve! Sabia que a viagem valeria demais a pena. Amei o texto, Bib. Na próxima, provavelmente de alpercatas, joned, who knows?

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  2. Adorei Friend! Realmente é essa a imagem que passam mesmo. Babei pelo morango! :S

    "Qnd eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto..."

    Adorei a música tbm!

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  3. Ei...
    vi teu blog numa comunidade e comecei a ler, achando super legal.
    Mas quando vi teu perfil, que me veio a surpresa:
    Tu é de Bonfim, cara! Eu sou de campo formoso... Fiquei tão feliz, não conheço quase ninguém daqui de perto que escreva. hahahaha

    Enfim, parabéns pelos seus textos... E essa música do Caetano é sublime.

    passa no meu blog quando der:
    www.borboletasnoesgoto.blogspot.com

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  4. Bastante admirável sua maneira íntima de ver e sentir os lugares e as situações,Flor!
    Parabéns.Texto excelente e de descrição "atípica" de SP.

    ;)

    p.s.:att no outro blog não há mais?

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