Desde pequena soube que tinha alguns tios que moravam longe. Tinham saído de Sr. do Bonfim ainda rapazes para tentar a sorte no Pará - isso mesmo, nada de São Paulo como a maioria dos nordestinos-. Alguns deles se foram e nunca mais retornaram à antiga terra - acho que simplesmente passaram a ter aquele lugar ermo como o verdeiro lar -. Outros, se faziam presentes na cidade de origem ao menos uma vez por ano (preferencialmente no São João, que é a melhor época para a cidade é claro!). O caso, é que aquele lugar, no meu inocente pensamento, tinha como capital a cidade onde o menino Jesus nascera.
Quando eu tinha sete anos, lembro de estar na escola colorindo uma dessas figuras natalinas de colégio religioso: O menino Jesus na manjedoura rodeado de bichinhos. E assim eu imaginava: Como deve ser legal morar onde Ele nasceu. Podia me imaginar naquele local arenoso, santo, cheio de casinhas de palha, manjedouras, burrinhos e reis forasteiros com camelos e presentes exóticos. Chegava a me gabar com os coleguinhas: '- Meus tios moram em Belém! um dia eu vou conhecer o lugar onde Jesus nasceu!' Queria mesmo era manda-los para as cucuias com suas fantásticas viagens à praias e parques aquáticos. Eu um dia iria a Belém, poxa.
O tão esperado dia demorou mais que o planejado. Eis que somente aos 14 os meus planos sairiam da imaginação. A essa altura logicamente eu já sabia que não pegaria um ônibus lotado de madrugada em direção à terra sagrada de Belém. Minha mãe e a própria escola já haviam se encarregado de destruir desfazer o meu doce mal entendido. Mas mesmo assim a viagem ainda tinha seu valor. Eu sabia que iria viajar durante 24 horas para enfim chegar à Santa Luzia do Pará (apenas 3 horas de Belém). E que o forte lá não eram manjedouras ou reis e sim a desconhecida floresta e uma cultura totalmente diferente da baiana.
Desde então, já devo ter retornado ao segundo maior estado do país umas cinco vezes. Adoro reparar nas diferenças culturais e na riqueza de um povo que até um dia desses (antes da proliferação da internet) vivia meio isolado. No início fiquei meio perdida com as gíreas: "pai d'égua", que significa que algo é excelente, ou simplesmente "égua!", que é uma forma local de exclamar algo, demonstrando admiração ou pavor, por exemplo. Achei diferente a forma como eles dizem que vão tomar banho: " vou banhar ", e a denominação exótica que dão para muriçoca ("carapanã") e pick nick - dim dim ou geladinho -, que lá é "chope". Tem também o lance da letra "N", que eles falam bem marcada.
O paladar também teve surpresas: açaí recém retirado da palmeira (1 litro por R$1,00), tacacá, pato no tucupi, cupuaçu, murici, cará, buriti, entre outras iguarias. E aí veio a música: os até então desconhecidos tecno brega, melody, tecno isso, tecno aquilo e etc, que são correspondentes ao frevo/forró para os pernambucanos e o pagode/axé/forró para os baianos.
Fora tudo isso, foi no Pará que dei o meu primeiro beijo e que aprendi a andar de moto às custas de algumas quedas. Lá também passei o meu primeiro reveillon na praia, fiz a minha primeira tatuagem de henna e peguei a minha maior insolação. Só naquelas terras andei a 180 km por hora (sem perceber) e tomei banho de rio na chuva enquanto via os peixinhos. Só no Pará tomei o microfone da cantora da banda - contratada para tocar em uma festa de família - e dei o meu 'show' (com o repertório que variava entre Celine Dion, Banda Calypso e Dominguinhos). Só no Pará eu escolhia a galinha que ia comer no almoço no nosso próprio quintal. Somente naquela terra você dorme com duas jibóias no forro de casa e não tem medo (elas são ótimas comedoras de morcegos).
Tirando a parte da umidade - que meu couro, 'aviciado' na aridez do nordeste não se acostuma nunca -, gosto de tudo naquela terra. A maioria das pessoas com traços indígenas, as casas humildes feitas de madeira - ao invés de barro - e a natureza sempre tão presente: tudo me transmite uma beleza serena e singela. E é por esse motivo que temos um país tão belo: somos pura diversidade natural, cultural e econômica. Isso em mãos certas viraria riqueza ao invés de miséria, não é mesmo?
Pois bem. Acabo de voltar e já estou com saudades.
*Para saber mais sobre o estado, confira:
http://www.pa.gov.br/O_Para/opara.asp
Que lindo!
ResponderExcluirEstava com medo de ser fictício.
hehehe.
Este não ;)
ResponderExcluirTexto lindo,ft linda!
ResponderExcluirAh e o design tá lindo.
A pessoa na ft da parte "não estou estudando" é vc?
obrigada, anônimo! :)
ResponderExcluira pessoa na foto não sou eu.
De nada!
ResponderExcluirPois parece demais ctg,acho que foi o cabelo.
;D
Depois do Calypso, você seria a segunda coisa que eu gostaria de ver no Pará.
ResponderExcluirGostaria tanto de poder ver suas fts no orkut cara Lívia.
ResponderExcluirNão há pretensão de deixar algum álbum livre para visitação tb n?
Adoro suas fts!
Bjos