Foto: Séria americana "Jeannie é um gênio" (1965-1970) |
Se achasse uma lâmpada mágica e dela saísse um gênio - não algum tipo de Einstein, falo daqueles que oferecem um desejo -, eu não teria dúvidas: pediria para ser idiota. Dinheiro, felicidade, amor, um bom brigadeiro de panela: nada disso me seria mais útil do que uma certa dose de burrice de vez em quando.
Ser perceptiva, captar as nuances, sacar olhares, analisar as palavras: tudo isso tem um precinho pra lá de salgado às vezes, sabia? Tenho a terrível mania de criar teorias que explicam coisas bobas. De vez em quando, elas explicam coisas sérias também. Torço pra estar enganada, gosto de pensar que estou "viajando na maionese", imaginando coisa aonde não tem. Mas aí vem a prática, acontece uma, duas, três e é batata: eu estava certa, infelizmente. Com direito à comprovação científica, empírica e a que mais quiserem.
Quem pré-sabe, também pré-sente e pré-sofre. E quantas vezes me peguei matutando, esmiuçando cada pedaço da fala, cruzando com os gestos, sobrepondo aos olhares, só pra ter mais certeza. E certeza do que é ruim dói pra caramba, não acham? Ah, se dói. Certeza de que vai chover no meio do passeio aquático, de que vou sentir frio - mesmo quando o calor parece estar decidido a não dar trégua. Certeza de que alguém não foi sincero. Certeza de que a mentira ronda próxima, prontinha pra dar o bote. Umas são engraçadas e depois que acontecem me deixam toda prosa: "sabia!". Outras cutucam como etiqueta pontuda em camisa nova. Não me deixam confortável até que se concretizem.
Esperar o desfecho trágico, a comprovação das minhas teorias, o momento de dizer: "- nossa, porque não confiei mais na minha intuição?" é o mesmo que sentar e observar pacientemente uma ampulheta. Só que espero com fome, com dor, com vontade de levantar, de sair correndo na grama, de tomar um sol na cara pálida. Espero como aluno que vai à escola em dia de prova e torce pro professor faltar. Torço contra mim, só que a favor.
Tá explicado porque desejei tantas vezes a idiotice. Mas parece que esqueci de passar nessa fila. Sou boba em muitos outros sentidos (graças a deus!), mas não nesse. Não nas percepções mais aguçadas, na intuição, na ligação do lé com o cré.
A grande questão filosófica de todo mundo que tem o dom de prever o futuro (eu não tenho, mas me permitam essa analogia pra lá de sem noção), é: - se eu sei antes de acontecer, será que vou poder mudar o destino das coisas? ou saber é também um daqueles dons que mais parecem fardo? Talvez o castigo por desafiar o universo e a lei do segredo-universal-de-todas-as-coisas seja a incapacidade de modificar o que conseguimos antever por uma fissura ilegal do tempo.
Gosto de chamar de "pessimismo", "frescura", "maluquice", "paranoia", mas quando acerto - e acerto muitas vezes - fico murchinha. Murcha feito flor que só foi arrancada por ser bela. Virtude pode levar ao sofrimento. Quem já se viu?
"Não pensa besteira, menina", dizem. Mas aí já é tarde: já pensei. E iniciei, inconscientemente, minha torcida pra estar errada. Pelo menos dessa vez, por favor.
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