TPM: tente pensar mais



TPM é respirar. Não ignoro os malefícios dos dez dias de inferno astral, é claro. Mas em que outra época no mês temos o direito de admitir ou sucumbir à determinadas fraquezas? Por um lado, são justamente esses dias críticos os responsáveis também por nossa paz. Poder comer chocolate desenfreadamente sem ser condenada, poder chorar de verdade durante os filmes sem medo de julgamentos, adiar a ida à depiladora. É na Tpm que deixamos emergir dos lábios ao invés de sorrisos educados, as dezenas de beicinhos que ficaram guardados nos outros vinte dias do mês.

A tensão abre espaço para o desabafo, e essa é uma das melhores partes. Os ciúmes são admitidos, a vontade de ficar em casa quietinha é perfeitamente tolerada. Temos licença poéticas para chatices de todos os gêneros, e, ainda que lá no fundo, gostamos disso - admitamos. 

Esse é sem dúvidas o período mais propício para o masoquismo musical. É tempo de remexer as feridas tirando os pontos na raça, só pra saber se cicatrizaram. É quando re-inflamamos algumas que ainda não estavam curadas. É quando descobrimos as cicatrizes instaladas onde um dia morou um corte. Pequenas descobertas por vezes desagradáveis ou dolorosas, mas que teimamos em fazer. Talvez essa síndrome mensal seja também sinônimo de coragem.

Colocar o braço para fora do carro num gesto obsceno. Soletrar com gosto um belo palavrão aos que obstruem o trânsito. Chorar para o guarda porque esqueceu a habilitação na outra bolsa, dar show no consultório médico porque já está há 2 horas esperando e nada. Reclamar do atendimento do garçom, descascar sem dó todo o esmalte vermelho da unha: o lema da tensão é ousadia.

Recusar ligações indesejadas sem o menor remorso é uma dádiva, principalmente nos tais dias. Poder dizer - Ai, - Ui! - Own..., sem a menor pertinência. Ter o direito de fechar com mais força a porta do quarto, deitar e chorar no travesseiro por estar 200 gramas mais gorda ou porque o namorado deixou de responder um SMS. E a dor de cabeça? essa, se usada e sentida nas horas certas até que é bem providencial, vai?

Arrisco dizer que TPM é a última gota da ânsia por paz, um pedido de socorro. É o apelo do corpo para o que a mente já diagnosticou e aturou em silêncio por um bom tempo. É vomitar os sapos do dia e da vida sem medo de fazer feio. É mandar a conta aos homens: a justa conta pelos hormônios que nos proporcionam as curvas arredondadas, indiscretamente assinaladas por assovios. 

Tpm é ruim, mas também é bom. É chato mas é justo com eles e conosco. É, sobretudo, uma ótima forma de aferir o companheirismo prometido e nem sempre assumido pela ala masculina. Não, não somos frágeis. Talvez vocês, homens, é que sejam. Já pensaram nisso?



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