O que comemoramos no Dia do Índio? Eu, pessoalmente, lembro da vergonha que passei a sentir quando criança. Foi um choque descobrir que os índios eram os 'donos' de tudo e hoje mal podem ser vistos num país de mais de 193 milhões de habitantes. Culpa das aulas de história. As mesmas que me fizeram entender que a igreja também era pecadora.
Hoje, o respeito e consideração geral da população com aqueles que foram cruelmente dizimados, limita-se, na maioria das vezes, à confecção de cocares coloridos e apresentações nas escolas no dia 19 de abril. Entretanto, surpreendentemente, os mesmos meninos que usaram arco e flecha e tiraram fotos com tinta no rosto na escolinha atearam fogo no índio Galdino em Brasília. São os mesmos homens, os que foram ensinados a dançar e usar tanga em abril no colégio, que invadem, desmatam e destroem algumas das poucas reservas destinadas a esse povo. São, ainda, os mesmos, que inspirados pelos padres jesuítas - só pode - ainda insistem em tentar catequizar quem já tem sua forma - não menos legítima - de lidar com as forças superiores.
Sim, meus caros. Nesse dia, não menos que os outros, resto acometida por uma angústia irremediável. A mesma que sinto quando percebo os traços escravistas ainda persistentes e velados em nossa sociedade.
Negros e Índios: Maltratados, escravizados, dizimados, estigmatizados. Reviver a história e constatar o reflexo ainda tão nítido de tudo isso nos dias atuais dói, ou deveria doer.
Embora as iniciativas comemorativas sejam perfeitamente saudáveis, considero inegavelmente ilusórias e insuficientes. Ainda temos muito pela frente. Necessitamos com urgência de uma base mais crítica, consciente e atuante, sobretudo. Aprender a fazer mais e festejar menos, talvez. E aí, quem sabe, os "personagens" "índios" e "escravos" sejam vistos de forma menos folclórica e mais realista. É o meu desejo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
diga aí