Desafiando os limites


O filme “Desafiando os limites” (2005), estrelado por Anthony Hopkins, e baseado em fatos reais, narra a intrigante história de Burt Munro, um homem idoso apenas pelos cabelos brancos e limitações físicas como problemas sérios na próstata e coração, mas que é dono de um jovial espírito sonhador.

Nascido em uma pacata cidade da Nova Zelândia no ano de 1899, Munro sonhava, ignorando sua idade avançada, em romper as barreiras do anonimato e fazer parte dos livros de história como o homem mais rápido do mundo. Após dedicar toda uma vida trabalhando e modificando sua adorada motocicleta Indian Scout, em 1967 Munro resolve embarcar em uma viagem para Utah, Estados Unidos, para participar de uma tradicional corrida.

As dificuldades eram notórias: a idade, a falta de recursos e as enfermidades que o acometiam. Entretanto, nenhuma delas foi capaz de obstar os objetivos do audacioso senhor.  E foi assim que após juntar o dinheiro obtido a partir de suas ralas economias, da hipoteca de seu desajeitado barracão e das campanhas e vaquinhas de amigos do Clube de motos da cidade, Burt embarcou com humildade e otimismo rumo ao seu sonho, mesmo que para isso precisasse cozinhar para a tripulação do navio em troca de sua passagem.

É fácil perceber a perseverança do idoso desde os primeiros minutos do filme, quando ensina ao menino Tom, seu vizinho e fiel escudeiro, o valor do esforço em prol dos sonhos. “Deus ajuda a quem cedo madruga”, diz em tom sábio. Questionado pela criança que queria saber se não lhe ocorria o medo da morte, Burt mais uma vez demonstra sua ousadia, disparando: “Não. Vive-se mais em 5 minutos numa moto dessas do que muitas pessoas vivem a vida toda.(...) O perigo é o tempero da vida. É preciso se arriscar, é o que faz a vida valer a pena".

"Desafiando os limites" é o tipo de filme que faz qualquer jovem ou adulto descrente se sentir meio envergonhado. É uma lição de obstinação e perseverança. É estímulo e encorajamento pra levantar do sofá e sair em busca dos sonhos, com o perdão do clichê. 

Falando nisso, lembro do estranhamento que senti ao ouvir recentemente de meu pai, um idoso de mais de quase 70 anos, que queria se inscrever em um programa de calouros. Não contive o riso. Mas o riso não era pra ele, era pra mim. Debochei, naquele momento, da minha precoce desistência de coisas bem menores do que ser um astro da música. Foi o sinal que eu precisava para repensar algumas das minhas escolhas. Marejei e ele não entendeu. Senti vergonha de minha latente covardia no auge dos 24 anos.  

E quantas vezes vi colegas inteligentíssimos sendo mentalmente reprovados nos melhores concursos antes mesmo de se inscreverem (e geralmente nem se inscrevem)? Quantas vezes ouvi e disse "Se eu pudesse não estaria fazendo isso e sim aquilo outro", forma cruel e comum de ceifar possibilidades antes mesmo de tentar.  

O medo paralisa e não tem idade. Somos condicionados, na maioria das vezes, a nos apegarmos a valores como segurança e estabilidade. Acabamos antevendo o fracasso das alternativas mais ousadas ou incomuns. E com isso vamos perdendo a sábia naturalidade que temos na infância, quando decretamos crentes e convincentes que seremos jogadores de futebol famosos, astronautas, bailarinas, cantores, atores, médicos, cozinheiros ou heróis. 

O filme "Desafiando os limites", a vontade inusitada do meu pai, e todo o resto culminaram, inevitavelmente, em um irrecusável convite para a busca da verdadeira realização. Tenho me permitido, ainda que com alguma dificuldade, sonhar como criança outra vez. E você, qual foi a última vez em que sonhou sem se obrigar a ter os pés fincados como raízes no chão?

  • Sobre vocação (pra rir):




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