Vem, chega mais perto. Pode pegar nas minhas chagas. Ainda estão mornas, sente? É, eu sei que são muitas. Queria, quem sabe, que eu tivesse ainda aquela alva pele branca, intacta e inatingida pelos golpes de beijos e promessas. Receio não ser possível, meu caro. Essa moça desnuda, exposta em carne viva, descobriu o caminho da travessia à nado. Cada marca, guarda uma lembrança doce ou áspera embalsamada com a mesma certeza: a de que tudo valeu a pena.
Engraçado como os apertos cotidianos funcionam de forma diferente, dependendo do momento: Alguns geram calos duros e secos, falsos escudos que blindam a fina pele que ainda existe por baixo e vez ou outra, teima em doer. Em outros, a pele ofendida se estende em forma de frágeis bolhas d'água, que se rompem, veja que curioso, com o toque da mais tenra agulha.
Não venha, pois, me poupar das tuas feridas. Logo eu, que ganhei diploma de doutora em mágoas - causar e sofrer, diga-se de passagem. Embora muitos tombos tenha sofrido, ainda posso dançar sem pisar nos teus calos; abraçar sem avivar as tuas chagas e beijar com o fervor de quem, incólume, desconhece todo e qualquer gosto amargo.
Ilustração: Adrian Borda |
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