Poluição visceral

Quando pensamos em poluição as imagens que vêm até a nossa cabeça são sempre as mesmas: fumaça cinza escuro saíndo de chaminés de fábricas, dos carros e ônibus, pilhas de lixo espalhadas pela natureza, manchas pretas de petróleo no mar - com direito a peixes boiando sem vida e pássaros brancos que ficaram pretos, trêmulos e pegajosos após receberem um banho da substância nociva -, barulhos ensurdecedores - a tão comentada poluição sonora -, rios fétidos que mais parecem esgotos percorrendo toda a cidade e por aí vai.

Entretanto, a poluição a que me reporto hoje, não é essa. É algo mais sutil, sorrateiro. Não está estampada nos grandes jornais, nem vira reportagens chocantes na TV. Daria uma bom documentário num desses canais à cabo, mas ninguém fala. A poluição a que me refiro, meus caros, é a do coração.
Sim, eu sei que parece meio brega falar disso, meio clichê, meio o-que-você-quiser-pensar, mas preciso falar: estou cansada de sujar o que há de mais puro com toda essa tranqueira. Cansei das adequaçõeszinhas a que somos condicionados pra não sermos alvo de maldades. Começamos ainda pequenos, lembra? Quando aprendemos que uma mentirinha de leve não faz mal a ninguém.

E aí é tudo um ciclo vicioso: aprendemos a ser "superficiais" e sorrir pra quem não gostaríamos. Depois, longe das vistas, pensamos sozinhos ou comentamos com outros o quanto aquela pessoa nos incomoda. E temos medo que as pessoas nos façam mal. Temos medo que nos roubem, nos matem, que coloquem a culpa em nós. Mas não temos medo apenas de bandidos: temos medo dos nossos pais, dos nossos chefes, colegas de trabalho. Temos medo que nossos amigos não sejam nossos amigos - vez ou outra descobrimos que algum não é -.

E o coração vai ficando gasto, corrompido, poluído  por sentimentos tão degradantes quanto infelizmente normais. Normais porque 'a gente não devia, mas se acostuma'. Ficamos alerta, óbvio. Descobrimos que o músculo mais importante do corpo é também muito frágil e aí, acionamos proteções nem tão naturais: Criamos muros, montamos guarda, criamos cascas, cúpulas, pontos de observação. E aí ele já não é o mesmo. Não mais tão puro, nem tão manso, nem tão limpo. O coração já não bate - não pode fazer tanto barulho -, estreita, espreita.

Então os agentes poluentes vêm de todos os lados: negativismos, queixas, reclamações, falsidades, ingratidões, invejas, espertezas, intolerâncias, injustiças. E já não há janelas, nem portas: só uma grossa camada que luta para ser impenetrável. Mas não tem solução. O jeito é separar o lixo em baldes coloridos, antes que apodreça e virar gari e faxineira(o) de si. Reciclar e renovar... e viver apesar de toda essa sujeira.


5 comentários:

  1. simplismente amei a analogia e concordo com o que vc diz...

    penso que somos bombadeados por todos os lados pela maldade, sujeira e mentira..e somos extremamente julgados quando comentemos algum escorregao, depois de estarmos completamento atolodos nessa "puluiçao visceral"

    amei amei seu texto..

    abraços..

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  2. Lembrou-me as palavras do poeta Thiago de Mello. Se ele tivesse feito para além do Estatuto do Homem também o Estatuto dos Corações, tomaria seu 'nãoestudo' como parâmetro. Muito bom.

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  3. Olá! Interessante seu blog. Já estou seguindo ;D

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  4. oi linda..
    tem um selinho para vc no meu blog..
    abraços

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  5. LIIIIIIVIIIIAAAAAAA, me segue por favoooor , eu sou sua fan ! [aaa]

    Gostei do post linda :D

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