We need education

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Já tive professor de tudo quanto é jeito. Não esqueço de nenhum deles(as). Os mestres e mestras tiveram e têm papel fundamental em minha vida: ajudaram, ou atrapalharam bastante.Lembro, que ainda pequena aprendi não sei com quem a ideia de racismo. Não sabia o porquê, mas dizia não gostar de pessoas da pele escura. Eis que um belo dia, minha mãe chega radiante do colégio: - Filha, sua nova professora é tão bela! Eu, ansiosa e maravilhada pedia que me desse detalhes da tão primorosa educadora. A descrição proferida, foi de bela e jovem mulher, de pele clara como a neve e cabelos pretos e delicados. Não via a hora de conhecer aquela que seria a responsável por ensinar a arte de ler e escrever à tantas criancinhas. 

Chegado o dia, lá fui eu ver de perto a idealizada pedagoga. No momento da entrada em sala de aula um sobressalto: - Ui! Acho que errei de sala. Estranhamente, todos os meus colegas estavam sentadinhos. Será que só eu fui posta em uma sala diferente? , pensei com meus botões. O erro estava na cara! Mas mesmo assim, com um sorriso amarelo entrei na sala e pude ter certeza:  A professora, era uma baita negra. Pele muito escura, lábios fartos, sorriso alvo e um fantástico Black Power, essa era a tal educadora.

Juro que a partir desse dia não soube mais o que era racismo. Aliás, acho que nunca de fato sentira. Crianças são mesmo papagaios, que imitam e repetem tudo o que os adultos fazem. Foi entrar na sala e me deparar com aquele sorriso fácil para ser alvo de um amor à segunda vista. Jamais esquecerei aquele perfume, que ela até hoje exala. É o cheirinho de boas recordações, de uma mulher guerreira e responsável, que me ajudou com primor a colocar os primeiros tijolinhos do meu alicerce estudantil.

Quando estávamos agitados, lembro que a pró cantava a música do “palhacinho dengoso” e apagava a luz, para que pudéssemos relaxar. Lembro que uma vez, pedir para não ir ao parquinho e ela deixou que eu permanecesse na sala desenhando na lousa com giz colorido – isso era uma grande prova de confiança para uma menina de 6 anos -.  O mais espantoso, é que ano após ano, tinha vontade de voltar à ser aluna da professora Elizete.

Costumava ver, entre uma aula e outra, alguns alunos antigos fazerem visitinhas e ficava até meio enciumada. Mais tarde, seria eu, uma dessas pupilas saudosas. O tempo passou, e para minha surpresa até hoje – 15 anos depois – A nega mais linda do mundo me reconhece e me cobre de beijos quando me encontra, deixando exalar aquele mesmo perfume, que me traz tantas recordações.  A pró Elizete hoje é aposentada. Reza com as suas amigas, senhoras de um grupo de oração. 

Mas a mensagem que fica, nesse dia dos professores, é que a essência da educação é o amor. Hoje, tantos professores carrascos, que aos trancos e barrancos jogam conteúdo sem sequer saber o meu nome. Aprendo tão menos, fico feliz tão menos. "Não se pode falar de educação sem amor" já dizia Paulo Freire. E é por isso, que cada vez menos somos educados. Somos sim, adestrados, enquadrados ou encaixados nos padrões.

Assim, aqui vai o meu carinhoso parabéns a todos os professores de verdade! Aqueles que de fato possuem a vocação de educar. Fica também o lamento, pela desvalorização de uma das profissões mais belas. Desejo a todos ótimos professores, sempre! Que possamos aprender e nos espelhar sempre nos que têm a faculdade de nos educar. Ah! Quero um dia ser professora. Sempre quis.  


 "Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda." (Paulo Freire)


6 comentários:

  1. eu me arrepiei no texto tooodo. também tive uma professora assim, da mesma cor, e com a mesma dedicação, linda pró mara =D. e eu acho, que o arrepio foi AINDA maior. é que, sabe, se na área humana é difícil, imagina nas exatas achar um professor humano? um arrepio saudosista e com um quê de lamento enorme!
    belíssimo texto.

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  2. Lívia, acertei quando lhe disse que continuasse escrevendo.

    Peco, às vezes, por exagero, mas este não é o caso. Seu texto está lindo e humano, como você. Parabéns!

    Vou mostrá-lo à minha mãe, que é professora.

    Para mim, o âmago da obra de Paulo Freire é humanidade, amor. Por isto sou profundo admirador dele.

    Ah, Lívia, sobre seu desejo de seguir o árduo (mas doce) caminho dos educadores...
    somos dois!

    Beijo!

    Ítalo Barbalho Ferraz

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  3. chorei tita!!!

    a pró Elizete!!!...

    lembro dela dançando tb!!...me acabava de rir!!...
    ela tb lembra o meu nome!! :P

    saudadeee...tempo bom que nao volta mais!

    xerim minha amiguinha...
    juro q continuo guardando seu lugazim...
    mas nao caio mais na besteira de fujir pra pintar o cabelo!
    rsrsrsrs...

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  4. Gentee.. Li o texto 4 anos depois e estou tendo a mesma sensação de arrepio e emoção. Pró Elizete, não foi a minha, eu era de outra sala, mas foi professora de minhas 2 irmãs e acontece a mesma coisa cmg, me reconhece aonde eu esteja e vem falar comigo. Quanta saudade da escola.. Belo texto, Lívia, alguém tem q mostrar a ela!

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  5. Que bom que gostou, laís! :D a pró Elizete é mesmo alguém muito especial! Faz anos que não a vejo :/

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