Céu azul, brisa no rosto, tarde de folga, caminho no calçadão
da orla distraidamente. Até que, por descuido, tropeço e esbarro nele. Nossa, que vergonha. Ele, alto, branco,
másculo, olhos doces e sorriso perfeito. Educado, ele beija minha mão docemente
e pede desculpas pelo ocorrido que eu causei, detalhe. Eu fico sem ação, sem
fôlego, hipnotizada, sabia que era ele, meu coração sentia que ele havia
chegado, tinha certeza. O Rapaz risonho se despede. Mas meio desorientado,
hesita, volta, se apresenta e me oferece um sorvete e companhia. Adiante,
empatia total, tardes perfeitas. A flecha do cupido, Deus, o destino e as
coincidências da vida fizeram o amor esbarrar em nós dois naquela tarde.
Tenho certeza, assim como 2 e 2 são 4, assim como a Barbie
sempre ficou com o gatissímo Ken, que a cena descrita já esteve semelhantemente
no imaginário de muitas mulheres, nos seus romances açucarados e contos de
fada. Num passado não muito distante... “Era uma vez” muitas Cinderelas, que
assim como a ingênua moçoila do conto acima, aguardavam inocentemente a chegada
do homem perfeito. Vindo misteriosamente, um rapaz a faria a corte e a carregaria
para um mundo perfeito, uma vida perfeita. Mas, hoje? Acordem Alices! A cena é
outra. Demos um olé no machismo e temos deixado transparente os nossos valores,
competências, brilhantismo e independência.
Como anunciava os Novos Baianos em 1972: “Quando eu nasci,
tudo tudo estava virado”. E eu comemoro as mudanças que aconteceram, meninas. Fico
orgulhosa pelas nossas conquistas, por não ter nascido na época machista da
minha avó, onde mulheres tinham que silenciar seus desejos, orgasmos e
autonomia. Parabenizo o pioneirismo de Joana
D´arc, de Pagú, de Simone de Beauvoir, de Chiquinha Gonzaga e de Leila
Diniz.
Eu louvo não ter que alimentar quimeras, não ter que ser
esteticamente perfeita, não ter que estudar pintura, bordado e literatura, para
esperar um alguém que arranjadamente virá ao meu encontro, muitas vezes por um
dote.
Eu louvo a liberdade de não ter que esperar por alguém, como
a moça do romance que redigi! Posso ir à luta, caro cupido!
Eu louvo a possibilidade de sair a esmo, desacompanhada e –
marotamente - paquerar. Admirar o bumbuzinho perfeito e as coxas daquele cara,
que passa correndo no calçadão e soltar baixinho: ‘Nossa que gato’ ou ‘Ô lá em
casa’.
Eu louvo também optar por não casar, não namorar, não ter um
relacionamento estável por um tempo. Nem ter que provar a sociedade que só se é
feliz com o outro. Ou que eu preciso de uma metade para me completar. Louvo
poder ser inteira e compartilhar minha vida com quem eu quero, amo ou não, por
pura curtição!
Eu louvo poder beijar diferentes bocas, deleitar seus
sabores, gostos. E se achar conveniente, deitar-me com o desejado, sentir seu
calor, ‘virar e revirar os olhinhos’ e gozar loucamente. E não ter no dia
seguinte que receber um ultimato de casamento dos meus pais.
Aos retrógrados e de mente machista e pequena, aviso que hoje
somos Lolas-Livres para correr atrás dos nossos parceiros, ideais e da nossa felicidade.
Uma liberdade que nada tem a ver com vulgaridade, não é atitude de mulher
‘galinha’, ‘piriguete’ e outras denominações dantescas. Estamos naturalmente exercendo uma liberdade
que nos privaram e que os homens já exerciam.
Portanto, quando estiver caminhando na rua, for à balada ou
partir pra vida... Caro rapazote, tiozinho e vovô, não estranhem e – tampouco –
repreendam nosso comportamento, nossa liberdade de ser o que se é. Pois agora,
de nariz arrebitado a menina dança, expõe suas vontades. E se for de nosso
agrado, a gente vai lá, vai lá, vai lá, vai lá! Ohhh!!!
Descreve-nos tão bem.. :D
ResponderExcluirBom! Muito bom!
ResponderExcluir"Até o sol raiar. Até dentro de você nascer. Nascer o que há!" Muito bom mesmo!!! Ousadia, inteligência, bom humor, muitas tiradas literárias que garantiram leveza ao apresentar o tema. ADOREI, VIREI FÃ, QUERO MAIS!!!
ResponderExcluirShow Peixinhoo!
ResponderExcluir