Leio Ivan Martins com assiduidade. Nem lembro quando fui "fisgada" por suas palavras despretensiosamente belas. Só sei que flagrei-me religiosamente ansiosa todas as terças-feiras. Mal podia esperar o texto da quarta. Os dedos formigavam, a respiração ofegava, e precisei admitir: estava irremediavelmente dependente daquela "conversa" em que só eu ouvia.
Jamais precisei emitir um único som, pasmem! Soaria completamente desnecessário, posto que cada crônica era nada menos que a resposta fiel aos meus secretos questionamentos. O jornalista transmutou-se de fato numa espécie de amigo. Parecia adivinhar o motivo do meu choramingo de domingo. Acertava em cheio, respondendo a dúvida que obstava o sono na segunda. A exatidão com a qual desvendava o meu emaranhado de pensamentos chegava a ser desconsertante.
Ivan encorajou-me na véspera do término daquele malfadado namoro. Na semana seguinte, estendeu-me seu lenço estampado de palavras. O simpático homem de cabelos encaracolados, sem querer ou saber, passou a influenciar positivamente as minhas escolhas. Tempo perdido na internet agora era ganho.
Depois de ler, compartilhar e eleger as crônicas prediletas, minha admiração pareceu ser docemente premiada. Tive a sorte de estar entre os vencedores de num concurso cultural promovido pela revista Época. Em virtude do lançamento do livro "Alguém especial", Ivan presentou dez leitores com um exemplar autografado. Agora teria poder sobre os textos do já festejado autor: finalmente poderia sublinha-los à lápis. Afinal, nenhuma tela de computador substitui o ar de pessoalidade e aconchego que as amareladas páginas de um bom papel exalam.
Confesso que antes mesmo de concluir a leitura já pensava em como agradecê-lo. A obra era a manifestação corpórea e concentrada dos presentinhos semanais de Ivan. Fui honrada com sua caligrafia na dedicatória. Como não me sentir especial? A mesinha de cabeceira agora estava completa. As palavras estariam ao alcance do tato, prontas para preencherem sem dia marcado os meus momentos.
Pra quem ainda não leu, adianto: Ivan é daqueles que já conquistam no prefácio. Dei piruetas internas ainda nas primeiras páginas. Ora, vejam: há alguns anos folheava as "dicas de amiga" da revista adolescente "Capricho". Agora, deitada na rede, deixava as horas escorrerem lendo um livro de gente grande. A gente vira adulto e nem percebe.
A obra é a primeira experiência de Ivan com a escrita não jornalística. Entretanto, embora as primeiras vezes sejam constantemente dotadas de timidez ou despreparo, não é o que ocorre. O autor foi certeiro: acabou preenchendo uma lacuna da literatura nacional. Escreveu sobre o que faltava. Trafegou com inteligência entre emoções humanas, sem parecer o típico "coroa vivido e sabichão". Conseguiu auxiliar-nos sem aproximar-se dos ditames já batidos da auto-ajuda.
O renomado jornalista faz o fantástico parecer bobo. Expõe com louvor as multifaces do que chamamos de existência humana: aquela que vivemos sem ter tempo de ruminar, entre o trabalho entediante e o pé na bunda. Transforma, pois, a vida real em matéria compreensível, sobre a qual leciona honoris causa. Enquanto vive, chefia e aprende vai cutucando com humildade as facetas do tempo e acumulando o que muitos deixam passar despercebido.
Parece, enfim, não almejar lugar cativo na cadeira dos ilustres semi-deuses das letras: ser "gente como a gente" é seu carisma e fonte de pauta. Resta-nos aplaudir e agradecer a gratuita e virtual cumplicidade. Estamos na torcida pelos próximos livros e risos. Que sejam como este primeiro: especialmente geniais.
Lívia Ramos
A obra é a primeira experiência de Ivan com a escrita não jornalística. Entretanto, embora as primeiras vezes sejam constantemente dotadas de timidez ou despreparo, não é o que ocorre. O autor foi certeiro: acabou preenchendo uma lacuna da literatura nacional. Escreveu sobre o que faltava. Trafegou com inteligência entre emoções humanas, sem parecer o típico "coroa vivido e sabichão". Conseguiu auxiliar-nos sem aproximar-se dos ditames já batidos da auto-ajuda.
O renomado jornalista faz o fantástico parecer bobo. Expõe com louvor as multifaces do que chamamos de existência humana: aquela que vivemos sem ter tempo de ruminar, entre o trabalho entediante e o pé na bunda. Transforma, pois, a vida real em matéria compreensível, sobre a qual leciona honoris causa. Enquanto vive, chefia e aprende vai cutucando com humildade as facetas do tempo e acumulando o que muitos deixam passar despercebido.
Parece, enfim, não almejar lugar cativo na cadeira dos ilustres semi-deuses das letras: ser "gente como a gente" é seu carisma e fonte de pauta. Resta-nos aplaudir e agradecer a gratuita e virtual cumplicidade. Estamos na torcida pelos próximos livros e risos. Que sejam como este primeiro: especialmente geniais.
Lívia Ramos
"Um comentário elogioso ao pé da coluna ilumina algo que você faz e nem sabia" | Ivan Martins
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