Esquecer alguém: modo Easy ou Hard ?



A ladainha comum do término todos conhecem, não tem como correr “fora da caixa”: lágrimas, tempo e o esquecimento. Cedo ou tarde nos surpreendemos ao constatar que sequer lembramos o número do telefone do outro. Logo aquele, que ligávamos e enviávamos SMS’ s religiosamente. A antiga musiquinha de casal já não faz cócegas no estômago e tampouco toca nas rádios. As lembranças, antes tão detalhadas, vão ficando embaçadas. A almofada de coração já está coberta de poeira em algum canto do armário. As visitas bisbilhoteiras ao facebook do outro vão ficando cada vez mais raras. As fotos de festas, sorrisos e programas sem a sua presença já não incomodam mais. E em uma noite comum de inverno, a estação mais cruel para os solteiros, a constatação é tão natural quanto inevitável: você superou. Parabéns, você matou o chefão e venceu no modo easy.

Mas e quando não seguimos a linha comum? E quando cada dia, mês ou ano após o término apenas reitera o que sentia? Sim. Algumas pessoas são osso duro de esquecer. Elas se vão, mas o seus fantasmas parecem pairar por nossas vidas, transitando livremente por nossas casas e cantos. Puxa a cadeira e prepara o couro, colega: Tudo indica que você escolheu, inconscientemente, o modo Hard.

Os lençóis estampados da cama viram lembrete das noites de amor. As panelas vazias na cozinha protestam inconformadas: preferiam a macarronada feita a quatro mãos. Nenhum colo serve. Você tenta o dos amigos, o da mãe, o de outros(as) paqueras que surgem nesse meio tempo mas não adianta. A pele grita e esperneia o tempo inteiro: em sua perspicácia, gravou o cheiro e a textura do outro em cada célula e não aceita substituição.

E vem aquela sensação de conto de fadas ao contrário: o “felizes para sempre” é antecipado e o “sempre” vira aquela fatídica noite em que o arranjo que parecia perfeito – mesmo com todos os defeitos – foi desfeito. Viramos personagens perdidos de alguma cruel história. Somos teletransportados duramente para o mundo dos mortais. Dos esburacados por dentro. 

Tentamos, embora ainda envoltos no amor antigo, seguir em frente. Damos outros beijos, sentimos outros cheiros e gostos, experimentamos outros toques e ouvimos e fazemos outras declarações. Mas o estranhamento é inevitável para quem ainda está preso ao passado. E vão questionar: – Mas já fazem anos, fulano(a)! Como ainda consegue manter essa fixação por tanto tempo?

Mas você tem a consciência tranquila. Deletou telefones e perdeu o contato. Já não procura por notícias nas redes sociais ou tenta qualquer aproximação física. Entretanto, saber do paradeiro é inevitável: amigos, cunhados ou os seus ex’s simpáticos sogros seguem mantendo vínculos e teimam em te atualizar. O fato é que à noite, depois do insucesso ou ausência de outros relacionamentos, você chega a rezar em silêncio pela felicidade do novo casal (sim, porque enquanto você insiste em curtir e o luto prolongado, o outro provavelmente já seguiu em frente). Querer que o outro seja feliz independente de com quem esteja – é isso o que querem os que amam de verdade. Que coisinha difícil, ein?

Mas a quem queremos enganar? Ninguém devolve aquele pedaço. E você se sente blindado(a) à novos amores. Vive romances, paixões avassaladoras, relações causais: mas à noite, impreterivelmente são você, seu travesseiro e as corriqueiras lembranças. E os lamentos pelos fim dos namoros que se seguem vira oportunidade pra sentir saudade daquele(a) que ainda não foi embora da nossa mente. E a essa altura as pessoas já se preocupam de verdade: Entenda, não existe mais chance alguma de vocês ficarem juntos, afirmam categóricas. Ou “ele(a) não te merece”. Mas e quem disse que amor depende de merecimento? E seguimos sozinhos, calados e até envergonhados daquela dor que persiste. Aprendemos a ocultar comentários e lágrimas fora de hora.

Conselhos não ajudam, opiniões não diminuem o  pesar e doses de realidade não  reduzem tão facilmente o seu amor. E será mesmo amor? A essa altura já esquecemos os defeitos do outro(a) e montamos sua imagem apenas com os retalhos de qualidades e belas sensações. Excluímos da parada todos os motivos que desgastaram a relação.

A insistência é ambígua. Reconciliações, ainda que tardias, acontecem, admito. Mas são exceções e nem deveriam constar nos livros. As vezes o relacionamento não tinha mais nenhuma vida no momento do game over. Todavia, o jogador apaixonado tende a apegar-se à qualquer fio – mesmo que imaginário – de esperança. Já vi amores solitários acompanharem os donos até o caixão.

Mas se a esperança pretende ser a última a morrer, sejamos mais espertos. Não existe ex gay, ex filho, ex viciado. Mas ao contrário do que os conservadores manuais do romântico sonhador diziam: existe sim ex amor. Tempo, maturidade, outro alguém ou simplesmente um surto providencial de lucidez: são incontáveis fórmulas de superação para o que parece insuperável. Só sei que na maioria dos casos de amores incuráveis a cura chega cedo ou tarde. Em doses homeopáticas ou intra venais.

Passamos a amar somente as doces lembranças (boas e ruins) e o antigo ser amado já não existe. Não em nossos sonhos. Chega de momentos Ghost! A realidade, enfim, descortina-se atrativa outra vez. E num suspiro de alívio aperta o reset e a vida segue... em uma nova e instigante fase. 


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