Amor e outras drogas


Tem coisa pior do que estar num relacionamento que é uma droga? Tem sim: quando o parceiro tem um relacionamento mais que fiel COM a droga. No início você nem percebe. Alguns escondem, outros(a) te contam, mas garantem: “é só de vez em quando”. Quando você menos espera, o que parecia ser inofensivo, vira um bicho de sete cabeças que foge completamente ao controle.

Ciúme excessivo, falta de romantismo, carência sem motivo, esquecimento de datas importantes, exageros no futebol com os amigos, não gostar de balada, amar a Revista Veja ou qualquer outro problema a gente ainda tolera ou resolve. Mas droga é complicado. Se as lícitas já são um problema, quando em excesso, imaginem as ilícitas.

Uma amiga foi a um badalado casamento e depois me revelou, em tom despreocupado, que os noivos forneciam aos convidados durante a festa todo tipo de droga. Tinha cocaína da boa – se é que podemos classificar assim-, em pequenos papelotes e em grande quantidade, pra quem quisesse.  O noivo era cocaineiro assumido, relatou. E não viu mal algum em esbanjar a droga e distribuí-la para os chegados. “Mas e a noiva?”, indaguei perplexa. “A noiva não usa, mas aceita numa boa”, completou.

A história para mim, soou, no mínimo, peculiar. Já tinha ido em uma dessas festas em que o noivo disponibiliza uma mesa repleta de cigarros de todas as marcas e modelos para os amigos. Mas cocaína, peraê. Aí já foi demais. Veja: estou longe de ser preconceituosa. Mas já pude presenciar namoros em que um dos dois era usuário de drogas. E é aí que mora a minha surpresa: se para os namoros já foi tão nocivo a ponto de desgastar a relação, como poderia, um vício como a cocaína, ser livremente aceito e corroborado por uma noiva não usuária?

Não estou aqui para julgar ninguém, nem pra explicar os malefícios da droga que todos já estão cansados de saber. Mas afirmo com convicção: droga em nenhuma hipótese favorece uma relação, principalmente quando um dos dois não usa. Até a maconha, tida como inofensiva, não é bem assim. E olha que estou longe de fazer parte da geração saúde.

Quando o tema é namoro, embora a falta de autopreservação seja ofensiva ao parceiro, que espera, no mínimo, que o outro se cuide, para que permaneça o maior tempo possível ao seu lado , não é só o malefício à saúde causado pela substância ilícita que entra em questão. São todos os necessários atos que circundam o processo da obtenção, utilização e renovação do estoque da droga e suas implicações em uma relação a dois.

A regra de ouro dos relacionamentos com viciados: em primeiro lugar a droga, depois qualquer outra coisa. Por mais tímido que o vício seja, ele ainda não sabe, nem você, mas se tiver que escolher entre a sua companhia ou sair de casa correndo às 01:00h da madrugada para conseguir mais um pouco do entorpecente, ele vai optar pelo segundo.

É isso mesmo. Quem namora pessoas que usam qualquer tipo de substância viciante terá que se acostumar com ausências, atrasos, ‘bolos’ e, eventualmente, falta de dinheiro. Sim, falta de dinheiro.  A não ser que seu namorado(a) seja um ricaço, uma hora ou outra você vai ver o vício falar mais alto e a viagem programada para a praia, ou o jantar no seu restaurante oriental predileto irem pro beleléu. Motivo? Ele precisava reabastecer o estoque.

Ser viciado é ser egoísta, sobretudo. Não por maldade, mas por descuido, descontrole. Ele(a) pode te amar, querer bem e fazer questão de estar junto, mas a droga, incontestavelmente, continuará sendo prioridade. A droga e quem a acompanhar, pois a maioria deles têm grupos de amigos usuários que se reúnem com frequência religiosa para compartilharem do mesmo hábito.

Quem namora um viciado terá que se contentar, eventualmente, com presentes mais baratos do que o que ele poderia comprar, presenças menos inteiras e mudanças bruscas de humor. Idas misteriosas ao banheiro, atrasos nos encontros, exageros em festas. Sem falar na preocupação angustiante todas as vezes em que alguma reportagem, documentário ou mesmo o noticiário mostrarem aonde tudo aquilo pode levar.

Já precisamos “fazer a Cleópatra” para o vício do futebol aos domingos e para vídeo game. Mas um vício perigoso e imprevisível com o qual lidar, soa, no mínimo excessivo para uma relação que é pra ser leve e fazer bem. A preocupação com o vício que matou Elis Regina e Chorão, dentre outros milhares de famosos e anônimos, não é besteira... não é ‘encanação’.

A má notícia, é que dificilmente você conseguirá mudar o que já tinha espaço certo no cotidiano do outro, antes mesmo de você começar a integra-lo. Além disso, iniciar uma relação já almejando mudanças drásticas é, no mínimo, uma cruel sentença.  Certas decisões dependem, exclusivamente, do outro. Amar, entender, opinar, é o que nos cabe. Mas a escolha, estejamos cientes, nunca vai ser nossa. Exceto a de optar pelo não-envolvimento.









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