Nós e os nossos nós.


Engraçado como o vocábulo "nós" é contraditório. Simboliza a união, a fusão do "eu" e do "tu" em uma única palavrinha. Ser "nós" é dividir. Decidir dividir, sobretudo. É estar entrelaçado com o outro na mesma palavra e ainda assim sentir-se confortável. 

Mas aí vêm os paradoxais nós. Os nós que ligam e prendem - por vontade - com firmeza e que ao mesmo tempo podem machucar. É... Nós e nós estarão sempre ligados. Duas palavras gêmeas, mas de personalidades tão distintas. É que ser 'Nós' é complicado. Vêm problemas, Vem o vento, vêm as tempestades, vem calor, vem frio, vem gente tentando derrubar. "Nós" são verdadeiras barreiras humanas contra toda e qualquer adversidade, que tentam, constantemente, manter aquela ligação através dos nós.  

Nós é sempre mais forte que um Eu sozinho. O nó do nós é um laço voluntário e mais seguro. Basta lembrar que quando éramos pequenos e enlaçávamos os cadarços, os nossos pais nos ensinavam a dar um nó após o laço pra evitar que cedo ou tarde aquilo se soltasse ocasionando um tombo. É que nós são difíceis de desfazer. E isso tem o lado bom e o ruim. O laço, puramente, a gente só puxa e já se desmancha. O laço é bonito, é  estético, é romântico mas é fluido. Não dói. Já o nó demanda esforço, tempo, machuca a unha e fere as pontas dos dedos. 

Às vezes os nós machucam tanto o "Nós", que ao invés de fortalecerem, terminam por enfraquecer o vínculo. Os nós são úteis, mas têm que ser feitos com cuidado e mantidos por vontade. Quanto mais o "eu" e o" tu" tendem a se afastar, mais o nó entre eles aperta e incomoda. Diferente do laço, que simplesmente se desfaz com um movimento contrário. Nó bom é nó quieto. Nós bom, é Nós juntos. 


Mas se é pra ter nós tão doloridos, vamos ser "a gente". A gente é eu e tu juntos, mas separados. Sem nenhuma amarra - boa ou ruim. A gente é mais leve. A gente é mais fácil. "A gente" é só estar lado a lado num determinado momento. A gente pode ser um pré-nós - ou não. A gente é sem compromisso com futuro, sem obrigação de permanecer junto. A gente é gostosamente eventual. A gente é livre. O nós também, mas é uma liberdade dentro do espaço amoroso criado, compreendido e aceito pelos dois.  A verdade, embora doa às vezes, é que mais vale "a gente" feliz, do que "Nós" tristes e solitários na junção vazia de nós mesmos. 


Estar "preso" só se for por vontade. 



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