Enfim, livre.

  • Alguns anos antes:

Adentro através dos enferrujados portões, enquanto, sorrateiramente olho a minha volta, em busca de algo que não existe ali. Logo, sinto falta da minha mãe. Por que ela não está aqui?! - indago. Sento-me então no banco de pedra, à sombra de uma frondosa árvore. Olho para as pessoas ao redor, e estas, me fitam insistentemente. Logo, fito-as de volta, e deixo gravado alí o meu olhar, a minha sombra, o meu eu. Inconscientemente, entrego-me àquele lugar, e sei, que dalí, sairei muito diferente. Decido procurar a minha sala, escorro pelos corredores ansiosamente. Vejo na espessa parede branca, quadros, com fotos e nomes de estudantes anteriores a mim... Sei que um dia, também serei uma fotografia no na parede.Percorro sinuosos caminhos, e espio por entre as brechas de algumas portas. Vejo uma saída. Caminho sobre o chão de cimento, olhando a areia e enormes mangueiras que nos cercam. Avisto uma última portinha azul. É lá -Eis a minha tão esperada sala. Chão branco, paredes rudementes pintadas da mesma cor, cortinas azuis, levemente tortas, cobrem as desajeitadas janelinhas também azuis. Atrás da sala, mais árvores, e uma rústica mesa de madeira, suja com restos e cascas de frutas. Ambiente bucólico, talvez pela proximidade com o campus de agronomia. O incrível, é que gosto. Me sinto aconchegada e feliz, nessa meio chácara, meio faculdade, que agora roubará grande parte dos meus dias. Anoitece. Hora de ir, penso como estou feliz. Amanhã, tudo novamente, eis a mágica que encanta a gloriosa rotina da vida!  (15 de setembro de 2007)

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Atravesso aliviada os antigos portões camuflados com tinta azul. Saio feliz, com enorme sensação de "dever cumprido" e de superação. Não podia ter imaginado há alguns anos atrás o quanto seria difícil. As paredes gastas e brancas, guardarão consigo recordações de queixas. Os azulejos do banheiro ficarão como reservatório das antigas lágrimas. Cada centímetro naquele local parecia cúmplice daquela epopeia de dez semestres. Não fossem as seguidas decepções e frustrações, poderia até sentir saudade daquela grande casa que me ensinou a ser dura, mas também a ter coragem. Os pequenos retratos na parede testemunharam a luta todo o tempo, estáticos. E por muitas tardes andei sem rumo, concentrada em pequenos pedaços de beleza que pudessem emergir daquele tormento: Uma gata deitada em um canto, com seus recém paridos filhotinhos, alguns micos, que saltitavam levemente entre os fios de alta tensão, uma flor azul, que insistia em desabrochar sempre tão meiga e quase sem platéia, a grama, estalando de tão verde, refletindo os raios solares nas tardes mais quentes, um sorriso amigo, um abraço, algumas risadas perdidas, sentada nas mesas plásticas da cantina. Tinha aprendido a admirar as pequenas coisas e tirar das mesmas o sustento para todos os dias que se seguiriam. Tempos áridos, aqueles. Mas férteis. Se por um lado não tive direito à leveza e vivacidade dos ambientes universitários comuns, pude visitar uma pequena maquete da vida adulta: com suas asperezas e dificuldades de gente grande. Entrei com uma pasta vazia e saio agora com uma mochila recheada de experiências, de malícia, de jogo de cintura. Fui batizada, benzida e aparelhada pra qualquer batalha. - E que venha a vida nova!, pensava exultante, enquanto aumentava o volume do som automotivo e  pesava o pé no acelerador com gosto,  na direção contrária àqueles portões. Aproveitei pra cantar alto e agradecer mentalmente, com um sorriso enorme no rosto,  banhado por lágrimas quentes, de vitória. A música? não lembro ao certo. Só sei que falava da mais pura alegria. 


2 comentários:

  1. Consegui sentir, ver tudo. Se Deus quiser, final do ano também experimentarei essa sensação. \o/
    Beijo linda.

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  2. *--------------------------------*

    Seguiindo aquii ;)


    http://galleriafeminina.blogspot.com.br/

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