Onze anos dando "aquela espiadinha", bordão consagrado por repetição na voz do Bial. Ainda lembro do primeiro reality do gênero exibido no Brasil. Era a Casa dos artistas, que chegou a ter em seu elenco figuras como Supla, Joana Prado (a Feiticeira) e Suzana Alves (mais conhecida como Tiazinha).
Nunca fui fã incondicional do programa. Assistia sim, vez ou outra, mas sem a religiosidade de quem realmente curte. Compreendo o fato de que ver a vida de pessoas famosas (ou semi-famosas) - que mexiam com o imaginário de muitos aqui fora - exposta daquela maneira, soava pra lá de atraente a milhares de brasileiros sedentos por entreterimento. Afinal, era ver a sensual Feiticeira, intocável debaixo do seu véu, descer do salto e lavar prato, bater boca, criar confusão e chorar. Era ver a desconstrução dos personagens e a revelação do lado humano de cada um. Ouso dizer, que era como mergulhar mais fundo em alguns "ídolos" - atire a primeira pedra quem discorda do encanto e adoração que as gostosonas mascaradas exerciam sobre o público. No mínimo a mania pela atração justificava-se pela curiosidade de tietes, gente que pela primeira vez poderia conhecer o mistério da intimidade de um famoso antes tido como intocável.
Tenho que admitir que o estrondoso sucesso do programa Big Brother Brasil (BBB) foi uma surpresa pra mim. Primeiro, porque trata-se de um bando de desconhecidos confinados. Sim, gente como a gente. Tá: o que me interessa ver um monte de gente comum enjaulada vivendo conflitos que todo mundo vive e presencia aqui fora o tempo todo? Acho pouco interessante, mas entendo quem gosta. O fato é que com o passar dos anos as edições foram ficando cada vez mais apelativas.
Bundas, pernas bombadas e seios de 450 ml cada, são exibidos à vontade. A frase "playboy, me contrata!" está claramente tatuada na testa da maioria das participantes. Os homens, por sua vez, dispensam a presença de máquina de lavar, posto que os seus abdomens, desempenhariam até melhor o árduo serviço.
A verdade é que ligo a TV e me sinto num açougue da era digital. Vejo carnes variadas: coxas, sobrecoxas, peitos rechonchudos de franga, músculos mil, filés bem e mal passados e fígados corroídos pelas bebedeiras em série, que por sina,l na maioria das vezes, acabam em bate boca e escândalos de toda ordem.
Gente que malha, toma banho de piscina, pega sol até tostar, come, bebe, ocasiona uma intriguinha aqui, outra ali e vai dormir pinotando em baixo de edredons coloridos. "Gente como a gente", diz Bial. ou "heróis", como são carinhosamente apelidados. Palhaços num picadeiro monitorado por dezenas de câmeras e telespectadores contentes com pão e circo, vítimas da alienação brutal exercida pela emissora do plim plim.
Inversão de valores, é o que eu penso. Difícil de digerir a intimidade alheia exposta numa vitrine, consentidamente. É privação de liberdade sem o cometimento prévio de crime. Acrescente-se a isso, o fato de que muitos crimes acabam sendo cometidos justamente com/através do confinamento. Posso citar vários: Injúria, difamação, estupro, lesão corporal, periclitação da vida e da saúde, omissão de socorro, dentre outros. E assistimos encantados, hipnotizados, despidos de valores morais. É como se o programa tivesse uma licença poética para exposições excessivas, orgias, crimes, trapaças e mal caratismo. Como assim, Bial?
São tempos de liberdades vendidas por um carro zero ou uma capa da playboy. Temos hora marcada para consentir com a degradação do ser humano todos os dias: entalados em cubículos sem direito à fazer necessidades fisiológicas, comer ou dormir, dançando por mais de 24 horas até a completa exaustão, se equilibrando em plataformas até os músculos doerem tanto que já não podem resistir. Crianças e jovens assistindo, vibrando, idolatrando e se espelhando em uma dúzia de corpos movidos por um jogo de exibição forjadamente grotesca e naturalística, bem aos moldes de "O Cortiço" de Aluísio de Azevêdo. Pessoas meio perdidas, tentando a sorte bancando os bichinhos de zoológico.
Sinto muito, Globo. Desculpa, Bial. Mas não tem trechinho de poema em dia de "paredão" que abrande o que uma parte do público já está vendo que é inútil. Perdão à quem se sentiu ofendido, podem até me colocar na berlinda, mas prefiro TV fazendo arte e entreterimento de qualidade. Sendo assim, Senta lá, Bial. Você e a sua espiada.
Aviso: o conteúdo desse texto é meramente pessoal. Expus a minha opinião - graças à liberdade de expressão - e a de uma minoria. Não procuro ofender quem gosta da atração, tampouco desmerecer o gosto alheio. Já assisti BBB e demorei anos pra formar essa opinião. Respeito quem discordar, afinal, cada cabeça é um mundo ;)
Fora os videos que são mandados para a seleção do BBB, gente se expondo ao ridiculo e sabendo que o video pode ser exibido se a emissora quiser. E esse empenho todo para, veja bem, uma chance de ser exposto ao ridiculo.
ResponderExcluirEsse chamar de "Heróis" é o que eu acho mais bizarro. Li em algum lugar que não lembro, alguém dizendo sobre o Bial, mais ou menos assim: "não entendo como o cara cobriu a queda do muro de Berlim, chama de heróis pessoas que só fazem comer beber e dormir. Quando os verdadeiros heróis estão aqui fora sustentando famílias com o que sobra de seus salários mínimos...". Mais ou menos isso. Enfim. Você está escrevendo muito bem Lívia. Gostei. E quanto ao BBB da globo, eu não gosto. E passo tempo demais acompanhando o "BBB" da minha vida. ha ha ha... bjo!
ResponderExcluirAté quando vai existir esse tipo de programa que faz a cabeça das pessoas se transformarem em lixo ? Sinto náusea desse programa principalmente pela apelação, mais que vontade de mostrar a bunda esse povo tem. Pra que ter celebro se você pode ter uma bunda? -.- Sinceramente gostaria de ser a Luíza e estar no Canadá!Estou seguindo, ficaria grata com sua visita e siga se gostar!
ResponderExcluirhttp://fazdecontatxt.blogspot.com