Pra fechar janeiro.


Tenho medo de esquecer o amor. Por isso sou capaz de alugar 15 filmes de uma vez: todos romances. É uma tentativa de acreditar – por osmose – na veracidade desse sentimento. Por isso observo casais felizes e seus sorrisos e olhares cúmplices: principalmente os velhinhos.  Por isso assisto a casamentos – mesmo sabendo que vou chorar durante quase toda a cerimônia enquanto me imagino casando com o noivo errado – . Por isso checo o azul do céu, o vermelho das rosas e o brilho das estrelas, e tento compará-los com algo humano: para ser brega, irracional e surreal, como os apaixonados. Por isso tento não dar bola para aquelas frases de pára-choque de caminhão:  “amor, só de mãe”. Por isso penso em pessoas ouvindo músicas que escolho como seus ‘temas secretos’: assim posso lembrar – sorrindo ou chorando – de olhares, gostos, cheiros e tatos quando às ouço.
Por esta razão, tento conservar antigas cartas de amor: as que escrevi e nunca enviei, bem como as que recebi em envelopes vermelhos, ou enlaçadas em fitas de cetim. Por medo de esquecer o amor, imagino tudo à dois, mesmo sem par. Por medo de esquecê-lo, por vezes encontro novos, ou desenterro os velhos: viver sem, é uma incompletude desconfortante e insuportável. Finalmente, por medo de esquecer o amor, incansável e inevitavelmente às vezes esqueço de mim mesma.
“Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do vôo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém. Livra-me dos poços e dos becos de mim, Senhor. Que meus olhos saibam continuar se alargando sempre(...)Volta a pergunta maldita: terei realmente escolhido certo? E o que é o “certo”? Digo que todo caminho é caminho, porque nenhum caminho é caminho” 
                                (Caio Fernando Abreu)

3 comentários:

  1. Ah,o velho Amor!Eita palavrinha complicada e para os apaixonados e apaixonantes de significados mil.Muito massa seu texto.E de fato segue a tua própria descrição no blog:egocêntrica!

    ResponderExcluir
  2. A melhor parte da vida é viver unido, casa e caracol, morango e vermelho, marciso e espelho, fim de tarde e sol, chuva e terra, vento e rosto, amor e palavra...esse tanto de amor quando escreve.

    obs: seu comentário foi um aforismo à parte.

    ResponderExcluir
  3. Ultimamente tenho procurado não refletir muito sobre isso, tem me feito mal...

    ResponderExcluir

diga aí

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...