15
dez

Laços


Aqueles tamanquinhos de laço. Quanto me fazem falta. Saltinhos passeando pela casa, em sonoros 'toc tocs'.  O peito vibra em onomatopéias antecipadas de  saudade. É quase o mesmo que privação de açúcar. Você tenta usar adoçante, mas não tem jeito. Doce, doce mesmo, só ela sabe ser. E vem a vontade de não fazer nada quando está aqui. Prefiro ficar parada, ouvindo os seus sons. Som de torneira ligada, de vassoura, de portas a bater. O ruídos produzidos pela mãe mais linda do mundo soam como uma sinfonia, para os meus tão singelos ouvidos.
Só ela sabe queimar roupas de um jeito todo especial. Não é um queimado feio, sabe? é um rasgo com tanta, mais tanta vontade de acertar, que chega a ser belo. E mesmo as manias que não gosto - como a de jogar todas as minhas quinquilharias no lixo -, não me incomodam nem uma gota, comparada ao vazio que sinto quando não está comigo.
Sempre soube que seria assim. Que nunca me adaptaria, que nunca deixaria de doer. ‘Com o tempo acostuma’, tanto ouvi. Mas nada. O tardar dos meses e anos, só aumentam  a necessidade de convivência que tenho. 
Só ela tem um senso de humor ímpar. Conhece a forma exata de me consolar: Arranca risos quando sarcasticamente linda instiga a pobre filha a beber wisky logo pela manhã, fumar baseados pra relaxar, de brincadeirinha. Só minha mãe, pra perceber que afagos e dengos não resolvem as minhas crises.
Só ela sabe imitar as vozes de todas as pessoas, tornando qualquer diálogo, por mais simples que seja, muito mais engraçado.  É de uma meiga lentidão para entender certas coisas – mania esta que herdei em parte –. Tem uma forma peculiar de dançar. E só ela, atende o telefone como uma lady. E cheira sempre bem – mesmo após um dia todo de trabalho.
Somos carne de uma só carne. O pires e a xícara, a orelha e o brinco, o sabão e o prato sujo. Rio e afluente, azar e talismã.  Mãe e filha que mais parecem irmãs. Amigas.

2 comentários:

  1. super interresante se vc gost de poemas vai nesse blog aqui , é super divertido.http://poemasteen.blogspot.com/

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  2. nunca vi uma descrição tão plena de uma relação materno-filial. o vínculo é sublime; a autoria, genial.

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