Quereres e estares



Quero uma profissão. Mais que isso, quero vida. Quero algo tão intrínseco que não haja vão onde se possa perceber a divisória entre eu e o meu ofício. Desejo algo que flua natural, que não me cause transtornos bipolares de segundo em segundo.

Quero o direito de poder ser eu, e deixar que os outros sejam algo digno, mas não quero “Direito”. Quero elaborar projetos, construir sonhos, engrenagens, casas à beira mar e em topos de montanhas mas não quero ser engenheira. Quero planejar, traçar metas, administrar minha vida e felicidade como ninguém, de modo a estabelecer o equilíbrio entre o meu eu, o próximo e Deus, mas não quero ser administradora.

Quero curar feridas – minhas e dos outros, detectar pelos sintomas os mais diversos males e prescrever soluções para a dor, mas não quero ser médica. Quero arquitetar planos mirabolantes, fachadas e interiores bem bonitos, pra deixar o mundo mais lindo de se ver, mas não quero ser arquiteta. Quero ter o dom do entendimento, o poder de desvendar os mais profundos mistérios da mente humana 
com uma conversa, mas não quero ser psicóloga.

Quero ir mais longe, sair desse mundo, flutuar, vagar pelo desconhecido, mas não quero ser astronauta. Quero dançar. Pulos, piruetas e aplausos mil. Mas não quero ser bailarina. Quero cultivar sorrisos, deixá-los cada vez mais lindos e limpos, mas não quero ser dentista. Quero encantar plateias  representar papéis que muitas vezes sou e não mostro, brincar de sorrir e chorar de mentirinha, mas não quero ser atriz.

Quero voar mais e mais alto, conhecer lugares, falar outras línguas, mas não quero ser turismóloga ou aeromoça. Quero prever o futuro num baralho, e assim, poder fazer melhor as minhas escolhas, mas não quero ser cartomante. Quero o poder nas mãos para mudar a cidade, o país, o mundo. Mas não quero ser da política. Quero estremecer a tudo e todos com o meu mais alto e belo canto, mas não quero ser cantora. Quero ter o dom de brincar com as palavras, unindo-as em perfeita sintonia como pequenos vagões de um trem, mas não quero ser só escritora ou poeta.

E percebo, que na verdade quero ser tudo. E na totalidade, não ser nada que ceife a minha liberdade de SER O QUE QUISER.



'Sempre há alguma coisa que falta. Guarde isso sem dor, embora, em segredo, doa. ' (CFA)

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