A gente começa a evitar os novos amores e nem sabe exatamente o porquê. As recordações apaixonadas vão virando aquela marca de biscoito que comíamos na infância. Já notou que eles nunca têm o mesmo gosto depois que você cresce? Ficamos ansiosos pra provar. Desejamos sentir novamente o mesmo sabor, aquele que nos remete aos dias mais felizes. Mas nunca é a mesma coisa. Basta uma mordida e constatamos o inegável: as coisas, por mais que tenham sido muito gostosas, jamais surtirão o mesmo efeito.
É que a gente vai apurando o paladar. Experimentando outras marcas e vendo que o diferente também pode ser bom. Aos poucos vamos abandonando as antigas preferências e criando outras, completamente opostas. As papilas gustativas vão acordando. Acabam ficando mais exigentes, sentindo nuances antes despercebidas. A sofisticação dos gostos é inerente aos que vivem e provam, mastigam, cheiram, mordem, chupam, lambem e deliciam-se com a vastidão de opções.
Só que somos teimosos por natureza. Insistimos em eventuais resgates do que fomos para ter certeza de onde devemos ir. É curioso como o passado tem o condão de influenciar no futuro. Sobretudo se a gente desenterra e resolve exumar as recordações nem que seja pra constatar o óbvio: o que passou não volta mais.
Não existe comparação. Esse papo de " já não se fazem biscoitos como antigamente" é coisa de saudosista convicto. O amor, os biscoitos e todas as coisas que mudaram ao longo do tempo continuam especiais a cada segundo. Provavelmente, daqui a alguns anos, serão os sabores de hoje os que mais arrancarão suspiros. Estarão, lá na frente, ainda mais vivos do que hoje, só porque já não serão palpáveis. Farão parte do diáriozinho que todos carregamos involuntariamente. Do livrinho de memórias-bem-sucedidas ao qual recorremos quando tudo fica estranho.
Amor, biscoito: prefiro não esperar tanto para vivê-los ou comê-los, ainda que os novos gerem tantas dúvidas. Nenhum é melhor que o outro, nem nunca foi. Essa sensação - de que o antigo foi melhor - é miragem sentimental que criamos quando sentimos preguiça de viver, pagar pra ver ou doar um pouco mais de nós mesmos. O fato é que optei pelo gostinho - bom ou ruim - do novo. Deixar vencer na estante por falta de chance é um arrependimento chatinho de lidar.
Já não há espaço para exigência em demasia: repito a prática infância, tempo em que bastava ser doce. E tem mais: depois que prova não tem jeito. Não adianta deixar o pacote aberto pra comer mais tarde. Bolachas ou amor: ambos afofam e se perdem se a gente não degusta até o último farelo no momento exato. Ou consome ou perece: bosta ou lixo, na pior das hipóteses. Coragem.
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