quase nunca falo de direito, mas...


Naquela manhã, tinha tido contato com uma série de audiências. Em uma delas, um homem, dono de uma frontier, processava a empresa Nissan, devido à defeitos de fabricação em seu automóvel. A Nissan, imbatível, não quis saber de acordo. Na outra audiência, a dona de uma F1000 furtada no River, pleiteava idenização por danos materiais contra o referido shopping, que diferentemente da outra empresa, optou pela conciliação, pagando R$ 21.000 à autora da ação. Saio do fórum  nada encantada. Não era muito chegada  em discussões sobre os bens. Gostava mesmo era de gente, pensava.

Entro em um dos prédios mais bonitos da avenida. Atrás das grandes portas de vidro , após percorrer escadas e corredores, eis que chego à salinha do promotor. Encontro pilhas de processos coloridos a enfeitar as mesas, prateleiras e até mesmo o chão. Dentro daquelas pastas cor de rosa estão mais que papéis, penso. Aquela saleta era o setor de infância e juventude.


Começei a folhear um boletim de ocorrência enquanto o mundo diminuía assombrosamente de tamanho. O meu coração era esmagado a cada declaração. Um dos meninos, havia ameaçado de morte o dono da casa a qual furtara. Segundo a vítima, o  infrator o teria afirmado com todas as letras que beberia o seu sangue. Vampiro juvenil e totalmente desnorteado. Provavelmente drogado, certamente carente da educação, família, lazer e saúde que lhes são garantidos constitucionalmente. Um outro menor, resolvera desferir golpes de faca aleatoreamente em pleno São João. Em meio a bandeirolas, arrastapé e comidas típicas, uma faca do tipo peixeira reluzia entre a multidão, banhada em sangues diversos. Já outro menino, um pobre engraxate, sob o uso de drogas como crack e tinner resolveu invadir uma residência em plena luz do dia. O saldo: um secador, um micro system e uma apreensão pela polícia.
 
Eu tinha o condão de interferir em todas aquelas vidas. E o meu vasto mundo agora era menor que o planetinha do pequeno príncipe. Em um assento alcochoado mergulhava em um caminho sem volta. Tenho apenas duas mãos, suspirava: e o sentimento do mundo.


Mais:

Estatudo da criança e do adolescente: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm
Ministério Público: http://www.mp.pe.gov.br/

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