Adoro a solidão dos shoppings. Terapia: Ir sozinha e observar as pessoas. O estranhamento é tão grande, que sinto as pernas sem rítmo, ensaiando passos descompassados naquele vãos de vidro e porcelana. Trôpega e invisível, trafego entre a multidão, que está sempre em duplas, trios ou "gangues". Famílias felizes carregando os seus bebês com a boca suja de sorvete, pré adolescentes com blush e gloss em excesso equilibrando-se em saltos assombrosamente finos e altos enquanto cochicham olhando para algum menino, cheio de gel no cabelo, casais conversando e trocando beijos entre uma loja e outra, velhinhas pisando macio em seus sapatos ortopédicos, homens de terno, recém saídos do trabalho tomando café com outros homens também de terno, madames escovadas, reluzentes em seus ouros e saltos.
Gente bebendo cerveja, comendo pastel, indo ao cinema, pagando uma conta, copiando a chave de casa, comprando presente, abrindo crediário e fazendo supermercado. Como as pessoas me espantam e interessam. - Mas também eu, não seria uma pessoa? , inquieto-me. E é quando me sinto mais acompanhada: na solidão dos shoppings. E sorrio, enquanto compro balas azedinhas, e sigo caminhando - pensando com meus botões sobre a condição humana -. Eu e as minhas mil insistentes e companheiras vozes.
Estar no shopping é um profundo não estar. "Shoppings são não-lugares", bem disse um velho professor. É só atentarmos para o fato de que podemos estar do outro lado do mundo e ainda sim encontraremos estruturas físicas quase idênticas, contendo similares grupos de pessoas moldando-se aos vãos bem iluminados.
E é de nadas que vou vivendo. Estar sozinha no shopping amplia e revela o meu preenchimento. Inundo-me de essências próprias. É o apogeu do eu. Da vaga impressão de que só eu existo, extraio percepções de olhares - por certo imaginários - de todos os alguéns-ninguéns que ali brincam de estátua de cera. E o mundo pára. Vou andando em câmera lenta até a saída, sentindo as minhas pernas pesarem 50 kgs. E passa pela cabeça, por um instante, que algúem aumentou os corredores depois que cheguei.
Já no estacionamento vejo uma árvore, um carro batido e um homem jovem que estacionou na vaga de idosos. A catraca do estacionamento trava e a máquina pede educadamente que eu insira o ticket outra vez. E eu insiro com paciência devida, afinal, tirando o homem que me confundiu com uma tal de "Tereza" a polida máquina foi a única pessoa a me dirigir a palavra aquela tarde.
E é de nadas que vou vivendo. Estar sozinha no shopping amplia e revela o meu preenchimento. Inundo-me de essências próprias. É o apogeu do eu. Da vaga impressão de que só eu existo, extraio percepções de olhares - por certo imaginários - de todos os alguéns-ninguéns que ali brincam de estátua de cera. E o mundo pára. Vou andando em câmera lenta até a saída, sentindo as minhas pernas pesarem 50 kgs. E passa pela cabeça, por um instante, que algúem aumentou os corredores depois que cheguei.
Já no estacionamento vejo uma árvore, um carro batido e um homem jovem que estacionou na vaga de idosos. A catraca do estacionamento trava e a máquina pede educadamente que eu insira o ticket outra vez. E eu insiro com paciência devida, afinal, tirando o homem que me confundiu com uma tal de "Tereza" a polida máquina foi a única pessoa a me dirigir a palavra aquela tarde.
lembro quando ia ao Plaza, em Recife, para fazer a mesma coisa. Quem me iniciou na prática das análises habituais foi meu tio, e juntos, tecíamos perfis psicológicos, desbravando vidas hipotéticas, verbalizávamos impressões e expressões com até certa elegância.
ResponderExcluirNão vejo como um não lugar. É um campo psicotramático dos hábitos comuns, basta que se sente num banquinho desconfortável e conjuge-se o verbo observar, reiteradas e divertidas vezes.
kkkkkkkkkkkkk
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